Você conhece o termômetro que mede cultura de doação?

Imagem de um caminhão de alimentos sendo descarregado.
por Andrea Wolffenbuttel
Movimento por uma Cultura de Doação (MCD)
Imagem de um caminhão de alimentos sendo descarregado.

Definir o que é Cultura de Doação não é simples. Imagine então medir a evolução da Cultura da Doação e o quanto tem sido feito nesse sentido! Foi esse o desafio que duas pesquisadoras muito experientes (Ana Lucia Lima e Camila Cirillo) aceitaram enfrentar, a convite do Movimento por uma Cultura de Doação (MCD).

E o resultado do trabalho delas e da Erika Sanchez, do Comitê Coordenador do MCD, é o Termômetro da Doação, um instrumento que traz um retrato da Cultura de Doação, sob diversos pontos de vista.

Essa história começa em 2020, quando o MCD criou cinco diretrizes para orientar quem desejasse estimular a cultura de doação. Todo mundo ficou contente, mas logo veio a dúvida: “como vamos saber se nossas ações estão dando resultado e se a cultura de doação está evoluindo?”.

A resposta chegou com o Termômetro da Doação, que traçou uma linha de base, a partir das cinco diretrizes, mostrando exatamente onde estamos hoje. O diagnóstico: estamos estagnados.

O Termômetro é um instrumento complexo, composto por 46 rubricas que apresentam 40 índices de 18 fontes diferentes, cobrindo um espaço de tempo entre 2015 e 2023. Mas é fácil entender o diagnóstico a partir das cinco diretrizes analisadas. Cada uma recebeu uma nota, que pode variar de 0 a 10.

A diretriz 1 recomenda o desenvolvimento de uma educação para a cultura de doação. Propõe a criação de ambientes propícios ao fortalecimento do espírito cívico e comunitário dentro de escolas, de famílias e de empresas. Essa diretriz tirou nota 4,2. Sobretudo porque ainda não se educa para que as pessoas entendam o poder transformador da doação nem elas valorizam o trabalho das ONGs.

A diretriz 2 é a promoção de narrativas engajadoras. Histórias positivas e qualificadas sobre a cultura de doação, que cheguem a um público diverso. Essa diretriz tirou nota 5,0. O que mais pesou para essa nota foi o fato de não termos muitos canais e estratégias para a comunicação com um público amplo e diversificado e também porque não foi possível encontrar um índice sobre ações de comunicação voltadas para valorizar a importância das ONGs e o papel dos doadores em sua sustentabilidade financeira. Exatamente uma das frentes lideradas pelo Sociedade Viva!

A diretriz 3 trata da importância de se criar um ambiente favorável às doações, ou seja, doar deve ser fácil, rápido e acessível para todos. Essa diretriz ficou com a pior nota: 3,6. E o que prejudicou seu desempenho foram três pontos. Primeiramente porque há poucos projetos e iniciativas visando facilitar o processo de doação. Em segundo lugar porque as pessoas não sabem que é possível doar e descontar do imposto de renda. E por último, porque o sistema bancário não é adequado para as necessidades das ONGs, o que faz com que doar fique complicado para os doadores.

A diretriz 4 recomenda o fortalecimento das ONGs. Esse fortalecimento passa pela necessidade de qualificação profissional, acesso a bons serviços, equipamentos e tecnologia, para que as ONGs possam produzir mudanças sistêmicas. A diretriz 4 obteve nota 5,0 porque as entidades quase não recebem recursos para seu fortalecimento.  As doações vão diretamente para os projetos sociais, sem que os doadores contribuam para o fortalecimento da instituição. Além disso, não foi possível identificar nenhum indicador que informe sobre a atração de novos profissionais para o terceiro setor.

A quinta e última diretriz propõe que os agentes que promovem a cultura de doação trabalhem de maneira mais integrada e estratégica, atuando como um setor. Essa diretriz tirou nota 4,6 e foi prejudicada, sobretudo, porque não há indicadores para dizer se os doadores têm consciência da necessidade de financiar as entidades que estruturam o campo da filantropia.

Depois de tantas notas baixas, talvez o leitor esteja se sentindo desanimado. Mas temos uma surpresa final. Além das diretrizes, o Termômetro também considera uma dimensão adicional, que avalia se as pessoas, entidades e empresas estão doando recursos e tempo. E justamente neste último tópico, a nota subiu para 5,7, elevada pelo fato de que há mais pessoas doando, o valor médio doado está aumentando pouco a pouco e a prática do voluntariado está crescendo entre os indivíduos e as empresas.

Porém, o mais valioso do Termômetro da Doação não é simplesmente nos indicar a ‘temperatura’, mas sobretudo nos apontar onde devemos atuar para que a cultura de doação prospere no Brasil, financiando organizações que desempenham um papel relevante nos âmbitos social, ambiental e cultural, além da defesa da democracia.

Andrea Wolffenbüttel é Consultora Associada do IDIS e membro do Comitê Gestor do Movimento por uma Cultura de Doação

Leia também:
Fique por dentro dos assuntos do terceiro setor e ajude nossas campanhas e ações a chegarem mais longe.

Acompanhe-nos nas redes sociais:

logo1lgoo2logo3logo5logo6logo7
Conheça nossas redes sociais.